Por: Diogo Salles
A luta contra a corrupção no Brasil ganhou um novo impulso na noite de 25/03/2024. Foi nesta data que aconteceu, numa ALESP lotada, a cerimônia de entrega do 4º Prêmio Não Aceito Corrupção, que contou com a presença de pesos pesados das áreas jurídica, jornalística, empresarial e da sociedade civil.
Pessoalmente, a noite serviu para me trazer boas memórias dos tempos de redação e também lembrar o quanto o jornalismo garante a vitalidade de uma sociedade. Tive o prazer de integrar a banca de jurados da categoria “Jornalismo Investigativo”, ao lado de profissionais tarimbados como Eugênio Bucci e Marcos Emilio Gomes.
Li com grande atenção, entusiasmo e alívio as dez matérias selecionadas. Sim, alívio, por constatar que ainda tem gente que se importa com a checagem dos fatos e com o rigor da apuração. Procurei ser bastante cuidadoso nas análises, seguindo os critérios determinados pela premiação. De qualquer maneira, faço questão de aplaudir não só os dez finalistas, mas também todos que enviaram seus trabalhos e se embrenharam nessa nobre atividade.
Já entre os premiados na categoria, vale a pena destacar um mérito comum aos três trabalhos: desvelar a farra com o dinheiro de emendas e do orçamento secreto. Falar mal do centrão virou esporte nacional. É de conhecimento público seus métodos altamente fisiológicos e nada republicados de fazer política. Porém, na hora de falar dos bilhões desviados, uma parcela mínima da população sabe dizer quanto dinheiro é desviado e como ele é desviado.
Pois bem, as três reportagens premiadas trazem respostas a essas questões. As duas primeiras colocadas – de Breno Pires, pela revista piauí; e de Alice Maciel, pela Agência Pública, respectivamente – mostram como a área da saúde é de fato o alvo preferido dos corruptos, não apenas pelo seu orçamento robusto, mas também por estar sempre em estado de emergência, o que facilita o atropelo das regras e das leis.
Já a série de reportagens que ficou com o terceiro lugar, de Artur Rodrigues, Cristiano Martins, Flavio Ferreira e João Pedro Pitombo, da Folha de S. Paulo, mostram como o envio de verbas de emendas para o acesso a água atende apenas a municípios com apadrinhados políticos, deixando áreas de maior risco à seca. A corrupção envolve as estatais CODEVASF e DNOCS, entregues a políticos ligados ao centrão, que ficam à mercê de toda a sorte de desvios na construção de cisternas e instalação de caixas d’água.
Essa apuração corrobora o que eu mesmo já testemunhei em minhas missões educacionais com o Instituto Brasil Solidário em diversas partes do Brasil Profundo: lá até a água vira moeda eleitoral. Outra chaga comum que as matérias corroboram é a forma como as batalhas políticas são travadas nos rincões, garantindo muitas reeleições a grupos instalados no poder, e sempre em prejuízo da cidadania e do interesse público. São retratos crus de uma realidade imposta pela corrupção sistêmica.
Mesmo sob ataques dos coronéis da pós-verdade (que decidiram que os fatos estão aprisionados em suas próprias redes sociais), o jornalismo investigativo segue vivo. Se as matérias não ganham a repercussão que deveriam, isso não diminui em nada a sua relevância – até porque os critérios e métricas de “relevância” que foram determinados pelos algoritmos são para lá de duvidosos.
Para além de informar e alimentar o debate público, todas as categorias do prêmio nos fortalecem como sociedade. Parabéns ao Instituto Não Aceito Corrupção pela iniciativa, com um agradecimento especial ao Roberto Livianu, pelo convite que muito me honrou.
Encerro aqui estendendo esse convite a você, leitor, para entrar no site do INAC e acessar gratuitamente o conteúdo completo de todos os ganhadores do prêmio nas seis categorias:
Diogo Salles é jornalista, cartunista e autor da Trilogia de Charges. Foi jurado na categoria “Jornalismo Investigativo” do 4º Prêmio Não Aceito Corrupção.
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