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O significado do assassinato de Villavicencio

ROBERTO LIVIANU 15 AGOSTO 2023 | 3min de leitura


Depois de passarmos por turbulências significativas, do avião balançar bastante, felizmente atravessamos a tempestade e os ataques, que incluíram uma série de imprecações falsas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas e muito mais.


Hoje, depois de ter sido corretamente decretada a inelegibilidade do ex-presidente, um mar de lama vem revelando um Bolsonaro bem diferente do “bandejão” e da falsa toalha xadrez popular do churrasco de domingo.


Primeiro, estojos de diamantes milionários das Arábias, alguns deles entrando no Brasil escondidos em escultura de cavalo, por sua vez oculta em mochila de ajudante de ordens. Agora, o caso do Rolex que rodou o mundo e teve a venda intermediada por Mauro Cid por US$ 30.000, sem nota fiscal.


Depois da venda, foi resgatado rapidamente para ser reintegrado ao acervo oficial. Pretendia-se evitar rastros, mas acabou por produzi-los em profusão descomunal e em escala internacional, conforme apurou a CPMI.


Estes fatos dizem respeito ao último ocupante da cadeira presidencial. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, acumula 400 anos em condenações criminais por atos de corrupção, em 23 processos. Apesar de ter confessado tais atos, mesmo assim foi solto pelo Supremo Tribunal Federal. Agora, será homenageado pela escola de samba União Cruzmaltina do Rio, por suas proezas de inviabilizar pela corrupção as políticas públicas no Estado do Rio. Desfilará de tornozeleira eletrônica, simbolizando o escárnio máximo nacional.


Tudo isto, contribui significativamente para o processo que avança no Brasil de erosão democrática. A qualidade das instituições democráticas sofreu grande declínio nos últimos 4 anos, em virtude de uma sequência de situações ocorridas no último governo.


Casos de corrupção, gradativo aumento de opacidade, hostilidade a jornalistas, e outras, fizeram com que fôssemos classificados como democracia falha, caminhando para nos transformar em autocracia, segundo o relatório (íntegra – 5MB, em inglês) do Instituto V-Dem de Gotemburgo, recentemente divulgado.


De acordo com o estudo, Chile e Uruguai apresentam na América do Sul indicadores um pouco melhores e diferenciados dos demais países do continente no que diz respeito à evolução democrática e ao controle da corrupção e outras referências no campo social, político e econômico. À exceção destes 2 países, o continente se vê marcado pela instabilidade política, que produz consequências funestas, que acabam sendo suportadas pelos respectivos povos.


Vive-se numa montanha russa na América do Sul, sacudida permanentemente por uso abusivo do poder, patrimonialismo, coronelismo e hostilização da imprensa pelos poderosos de plantão. A corrupção tem colorações regionais, mas está sempre presente, muitas vezes pela ação de empresas multinacionais, como revela Malu Gaspar, no livro A Organização, ao falar sobre a Petrobras.


O livro mostra que a estatal atuava desta forma na América do Sul como um todo, com logística de distribuição de propina viabilizada pelo famoso departamento de operações estruturadas que funcionava ao lado do departamento comercial e de todos os outros, como se aquilo fosse lícito.


Neste contexto, Fernando Villavicencio, candidato à Presidência da República do Equador pelo Partido Movimento Construye foi morto em Quito com 3 tiros na cabeça na semana passada a 11 dias das eleições. No dia seguinte, Estefany Puente, candidata à Assembleia Nacional sofreu atentado em Quevedo, sendo atingida por disparo no braço.


Há uma certa perplexidade diante do assassinato e o partido de Villavicencio escolherá um substituto, mas as cédulas já foram impressas com o nome e foto do candidato morto e serão utilizadas nas eleições. Será necessário advertir os eleitores sobre o fato, para assim procurar preservar a democracia equatoriana.


Villavicencio, que alternava entre o 4º e o 5º lugar nas pesquisas eleitorais mais recentes, tinha discurso anticorrupção e criticava tanto Bolsonaro como Lula. Já há suspeitos presos apontados como sendo os responsáveis por sua morte, evidenciando-se o nível de fragilidade e desproteção às instituições da democracia na América do Sul, onde se insere o Brasil.


Registre-se que episódios desta natureza são corriqueiros no continente. Logo, é certo que tais acontecimentos confirmam a conclusão de que a democracia aqui é falha e demanda um conjunto complexo de aperfeiçoamentos para conter o processo de erosão que a atinge ao longo dos últimos anos. Reforma política e fortalecimento das instituições democráticas seguramente são o ponto de partida essencial.


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