Quando observamos as pesquisas eleitorais deste ano, a corrupção parece ter se tornado um problema secundário para grande parte dos eleitores. Tomando como base a sondagem Genial Quaest realizada entre o fim de junho e o início de julho, apenas 9% dos eleitores apontaram a corrupção como o principal problema do país.
E fica claro que, neste momento de grave crise econômica, que é o principal problema na percepção de 44% dos entrevistados, a corrupção só tem alguma importância entre os que têm uma condição econômica mais favorável, como apontam os 15% que se preocupam mais com o tema entre os que têm renda de mais de cinco salários mínimos.
Uma indicação interessante da mesma pesquisa é que, entre os que indicam a corrupção como o principal problema, mais da metade deles (53%) tem a intenção de votar no atual presidente Jair Bolsonaro, enquanto apenas 23% indicam que votariam no ex-presidente Lula.
Mas o que podemos observar desses dados, que é claro que não são um retrato estável da realidade, principalmente porque tratam de um cenário préeleitoral, é que há uma tendência de que, quando há uma preocupação com necessidades imediatas, é muito difícil falar de corrupção.
Porém, o que falta ao discurso político dos líderes que querem se destacar pela ética e pelo combate à corrupção, é a ligação entre crise econômica, problemas sociais, emprego, infraestrutura e corrupção.
Então, o desenvolvimento do discurso deve ser pedagógico. Afinal, se há corrupção e, consequentemente, desvio de dinheiro público, quanto do cenário econômico que estamos vivendo tem relação direta com ela?
Porém, em vez de educar, grande parte dos discursos ligados ao combate à corrupção leva às pessoas a ideia de que ela é um problema dos inimigos políticos. Ao tentar transformar o adjetivo corrupto em xingamento, subtraise o que é fundamental: a argumentação sobre a corrupção.
E isso acontece mesmo entre as lideranças que têm como principal mote das suas campanhas políticas o combate à corrupção. Observe: dos inúmeros candidatos que se apresentaram em 2018 como os combatentes mais competentes contra a corrupção dos governos petistas, quantos desenvolveram discursos claros, didáticos, mostrando o problema de forma clara para os eleitores?
Mesmo agora, em que o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dalagnol, os símbolos mais importantes da Operação Lava-Jato, se apresentam como pré-candidatos no Estado do Paraná, o que eles têm feito para dizer o que é, como funciona e como a corrupção destrói a possibilidade de que o país possa ter estratégias para o longo prazo em diversas áreas?
Ao contrário, eles continuam falando da corrupção das grandes estatais, dos problemas que atingiram principalmente um grupo político, mas deixando de lado a educação para que a população entenda que a corrupção está no dia a dia, na rua, no bairro, na cidade.
Alguns poucos líderes e entidades tentam, sem grandes investimentos e capacidade de comunicação, levar as discussões sobre a corrupção para que elas ultrapassem os ataques e possam fazer parte de uma formação para a cidadania.
Portanto, o resultado das pesquisas, e da sondagem citada no início deste texto, ao não demonstrar a corrupção como o principal problema do país, demonstra o desserviço que essas lideranças têm feito para proteger os corruptos, ao deixar distante da população um dos motivos mais importantes que resulta na crise econômica: a própria corrupção.
Ao tirar dinheiro público da educação, da infraestrutura, da saúde, da proteção social, a corrupção influencia o acúmulo de riqueza pelos mesmos grupos e famílias, desestimula o empreendedorismo, impede o crescimento econômico e a geração de empregos de qualidade.
Com isso, repetimos um ciclo terrível, em que o objetivo de uma parte importante da população é acessar o nível em que é possível também se beneficiar da corrupção. Assim, em vez de impedir que ela aconteça, vamos criando um Estado corrupto ainda mais presente, resultado da valorização da corrupção que, quando é ligada aos grupos dos quais se participa, não tem o nome de corrupção, mas sim de esperteza, de capacidade de conquistar bens, e até mesmo de bênção.
Como mudar isso? A receita é clara. Com lideranças políticas que possam apontar para a corrupção em todos os grupos, não apenas nos adversários. Sem isso, é impossível que consigamos nos livrar da corrupção endêmica. O que temos hoje é a preocupação com a crise econômica, que fica dissociada da ação política, como se fosse apenas uma onda de pessimismo, um resultado de uma guerra distante, um momento passageiro de incapacidade do grupo que está no poder.
Enquanto isso, os corruptos, de todas as ideologias e em todos os níveis, continuam agindo e roubando o nosso futuro.
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção
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