“Você tem o poder de mudar o mundo com os seus investimentos”. A frase do J.P. Morgan, um dos maiores bancos de investimentos do mundo, nos convida a pelo menos duas reflexões. A primeira, seria possível imaginar um mercado no qual a decisão de investimento não se limitasse ao pragmatismo do lucro a qualquer preço? Em outras palavras, seria possível que valores como integridade e sustentabilidade tivessem realmente valor para as empresas além dos ganhos financeiros? A segunda, se considerarmos que nossos investimentos podem construir um ambiente de negócios mais ético e sustentável, como evitar oportunismos e encontrar as oportunidades certas?
Nesse contexto, muito tem se falado sobre ESG, mas, afinal, o que significam essas três letras que, juntas, estão revolucionando a forma como as empresas fazem negócios, se relacionam com o meio ambiente e, ainda, podem ser um instrumento de combate à corrupção?
A sigla ESG foi usada pela primeira vez em dezembro de 2004 no relatório “Who Cares Wins”, preparado pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (“The Global Compact”), uma iniciativa liderada pela ONU em conjunto com outras organizações internacionais para se referir ao conjunto de pilares de desenvolvimento sustentável. Os chamados investimentos ESG, cuja sigla enuncia o início das palavras inglesas environmental, social e governance, constitui um conjunto de boas práticas que deve orientar os negócios e os impactos das operações das empresas, os quais são analisados de acordo com três eixos centrais: o ambiental, o social e o de governança.
Se originalmente a proposta do então Secretário Geral da ONU Kofi Annan estava voltada às ações do mercado financeiro no gerenciamento responsável e sustentável de ativos e nas transações de títulos e valores mobiliários, pode-se dizer que hoje o espectro de valores ESG abraça todas as atividades econômicas, irradiando efeitos sobre toda a cadeia produtiva.
Para além das questões ambientais, no mundo atual, sustentabilidade engloba uma multiplicidade de camadas que se sobrepõem. Além da preservação ambiental, do consumo consciente e dos vetores que orientam a economia circular, sustentabilidade engloba também princípios éticos, responsabilidade social, políticas de diversidade e inclusão, transparência e governança corporativa.
Diante da ausência de um conceito completo e uniforme, instituições do mundo todo têm criado índices e métricas para avaliar as práticas adotadas pelas empresas, a conformidade dessas práticas às recomendações de desenvolvimento sustentável da ONU e os impactos das atividades empresariais. São esses índices e métricas que hoje, vindos do mercado financeiro, orientam a atuação corporativa e impactam diretamente a financiabilidade dos negócios.
Se, por um lado, os investimentos ESG estão na moda e podem se tornar uma grande oportunidade de negócios para os agentes econômicos que estiverem conectados nessa agenda, por outro, ainda é necessário um amadurecimento sobre o tema a fim de se evitar práticas de greenwashing e outras condutas que têm levado empresas se envolverem em escândalos de corrupção e danos ao meio ambiente, além de programas meramente formais para simular e enganar o mercado e reguladores.
Da mesma forma, com o amadurecimento do mercado de capitais, a emissão de títulos atrelados a metas de sustentabilidade se consolida como uma excelente alternativa de captação pelas empresas, seja através de modalidades reguladas como debêntures de infraestrutura, seja através de green e social bonds. Além disso, à medida em que a empresa investe em governança corporativa e conformidade, também é um caminho para contribuírem na prevenção e detecção de não conformidades e práticas de corrupção.
Se num certo momento o economista americano Milton Friedman afirmou na década de 70 que o negócio dos negócios são os negócios, sob uma perspectiva pragmática do lucro acima de qualquer coisa, aos poucos um novo paradigma jurídico e comportamental é construído no sentido de que as empresas não estão sozinhas no mundo, mas só existem porque há pessoas, meio ambiente, parceiros e clientes.
Constata-se, portanto, que ESG na verdade é responsável por um verdadeiro ciclo virtuoso, um cenário de ganha-ganha para todos os stakeholders: com processos e atividades mais sustentáveis, ganha o meio-ambiente, ganham os consumidores e os cidadãos; com maior visibilidade e rentabilidade de suas iniciativas sustentáveis, ganham as empresas e o mercado.
ESG é um caminho sem volta. Ao lado dos agentes estatais, o investidor também assume um protagonismo para contribuir na construção de um ambiente de negócios mais sustentável e íntegro. Não há dúvidas: Empresas éticas valem mais.
Comments