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No rumo do Observatório da Corrupção

 Por: Marcos Emílio Gomes


Nestes tempos em que o bombardeio das redes sociais nos põe em alerta a cada segundo, raramente para algo cuja relevância ultrapassa os segundos seguintes, é mais do que alentador ter a oportunidade de, numa única e surpreendente sequência, encontrar trabalhos jornalísticos em que o ineditismo convive com a profundidade e a apuração, que transparece ao longo do trabalho, não faz concessões aos mecanismos raros da caçada de cliques ou do sensacionalismo barato. Cada um dos trabalhos inscritos já foi, em si, um prêmio conquistado pelos brasileiros.

 

A inclusão da categoria Jornalismo Investigativo no Prêmio do Instituto Não Aceito Corrupção foi uma acerto extraordinário e eu, pessoalmente, espero ter, nos próximos anos, o privilégio não necessariamente de voltar a ser jurado, mas de ser informado sobre os trabalhos concorrentes e poder outra vez ter acesso ao conjunto de reportagens que, na prática, é um extrato de alto nível do melhor que se faz para manter abertos os olhos do cidadão quanto aos maus e criminosos hábitos que ainda fermentam em nosso país.

 

Gostaria, no entanto, de ir além da reivindicação do privilégio para tentar desenhar algo de prático no sentido de ampliar a divulgação não somente desses trabalhos concorrentes ao Prêmio, mas do que de melhor se faz de jornalismo investigativo.

 

É notória a dificuldade que os veículos de qualidade têm atualmente de encontrar a audiência interessada no que produzem. Cada um deles faz seu próprio esforço de divulgação e – num cenário tomado por notícias falsas, manchetes caça-cliques, apurações rasas, investigações de competência duvidosa, parcialidade e intenções danosas – repercute geralmente exclusivamente dentro de sua própria bolha.

 

Algumas dessas bolhas são até grandes, mas raramente, mesmo nos mais profissionalizados veículos, a informação transborda para conjuntos maiores da sociedade e, com isso, gera indignação e, daí, consequências que se esperariam ser naturais de denúncias tão documentadas e histórias de abuso e crime tão bem apuradas, tão bem contadas.

 

Isso, de um lado, pode ser um sinal desses tempos em que a atenção social não perdura sobre um fato por mais do que alguns dias, raramente semanas, quase nunca meses. Mas é também, em boa parte, resultado dessa certa impossibilidade de furar os contornos de universos informativos limitados.

 

Diante disso, cabe pensar na concentração de esforços para consolidar o projeto Observatório da Corrupção, cujo objetivo é centralizar informações relevantes sobre o cenário de combate à corrupção.

 

Como parte desse projeto, poderia existir um portal que resuma, divulgue e remeta o cidadão para trabalhos jornalísticos relevantes que vão sendo publicados Brasil afora praticamente todos os dias. Num processo de curadoria, o INAC agiria ativamente para encontrar esses exemplos notáveis de jornalismo investigativo.

 

Claro que a palavra-chave para desenvolver o Observatório e sua árvore temática tem relação com recursos, capacidade financeira, fontes de financiamento. Porém, diante da notável competência até hoje exibida pelos gestores do INAC para avançar e gerar resultados, não é excessivo esperar que esse desenvolvimento venha a acontecer brevemente.

 

Caso eu possa ajudar de algum modo nessa direção, contem comigo.

 

Marcos Emílio Gomes é jornalista há 45 anos. Atuou em jornais e revistas de grande circulação e publicou em 2013 o livro “A Constituição de 1988, 25 anos”, que foi finalista do prêmio Jabuti. Foi jurado na categoria “Jornalismo Investigativo” do 4º Prêmio Não Aceito Corrupção.

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