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Por que somos avestruzes?

Roberto Livianu 21 JUNHO 2024 | 4min de leitura


Pesquisa internacional realizada pela Reuters revela que a proporção de brasileiros que evitam saber das notícias subiu para 47% em 2024, uma alta de 6 pontos porcentuais em relação ao ano passado (41%). Ou seja, quase metade dos entrevistados quer se comportar como se fosse avestruz, enfiando a cabeça sob o solo, simplesmente fugindo da realidade, indica o Relatório de Mídia Digital do Instituto Reuters, divulgado nesta segunda-feira (17).

 

A pesquisa, que ouviu 94.943 pessoas em 47 países, indica que cerca de 4 em cada 10 pessoas no mundo (39%) evitam o noticiário às vezes ou sempre, uma alta de 3 pontos percentuais em comparação com o ano passado — a porcentagem era de 29% em 2017.

 

Por que será que as pessoas estariam querendo fugir da realidade? Fala-se que as informações são extremamente pesadas e desfavoráveis. Vivenciamos há mais de dois anos a Guerra na Ucrânia e agora o conflito na Faixa de Gaza. O passar do tempo transmite a falsa impressão da naturalização, mas a verdade é que a situação certamente em alguma medida internaliza um profundo desassossego e mal-estar em muitas pessoas.

 

Aponta-se considerar o noticiário repetitivo e tedioso, e, na maior parte das vezes, negativo, as pessoas se sentem ansiosas e impotentes e isto as leva a uma predisposição a querer simplesmente se isolar da realidade. Brasil, Espanha, Alemanha e França foram os países em que a rejeição às notícias teve um aumento maior que a média.

 

O que poderia estar por trás deste grave sentimento de impotência? Frequentemente noticiam-se fatos que transmitem acentuada percepção de enfraquecimento da democracia e mau funcionamento das instituições, de perda de credibilidade, de perda do sentido de prevalência do interesse público e crescimento exponencial da impunidade em todos os níveis.

 

Observe-se a título de exemplo as atuais e recentes questões examinadas sob urgência de votação, que se naturalizou de maneira abusiva ao longo do tempo. Hoje virou normalidade lamentavelmente ignorar as chamadas comissões. Ou seja, não realizar audiências públicas, não ouvir especialistas, não aprofundar debates, o que enfraquece a democracia.

 

A urgência é aprovada em acordo de líderes e vai se passando o trator. A última novidade foi a inclusão repentina da PEC 9 da anistia aos partidos repentinamente na pauta do plenário, com novo relatório, propondo amesquinhamento do direito à participação de negros e mulheres na política, além de anistia de todas as violações às transgressões partidárias anteriores.

 

Um verdadeiro acinte à sociedade. Não é de se duvidar que o PL 1904 sobre o aborto pode ter sido uma cortina de fumaça para aprovar de boiada esta PEC da anistia aos partidos.

 

Assume-se sem pudor que as emendas parlamentares são destinadas de forma clientelista aos redutos dos congressistas, pouco importando a efetiva necessidade social do recurso público. Nem 2% dos membros do Congresso estabelecem critérios objetivos para destinar estes recursos. Mais de 98% o fazem visando satisfazer suas bases, pretendendo em verdade a perpetuação no poder, vez que inexiste limite ao número de mandatos seguidos no Legislativo.

 

Por outro lado, constata-se ter havido queda significativa do número de pessoas que acessam veículos de mídia com conteúdos trazidos por jornalistas profissionais apurados de forma ética e cuidadosa. Isto acontece ao mesmo tempo em que se acentua a crise financeira nos veículos, aceleram-se as demissões, e aumenta a fatia de pessoas que buscam informações nas redes sociais de 23% para 29%.

 

A tiazinha do zap ganha espaço e com isto, aumenta exponencialmente de disseminação de fake News, vez que nas redes sociais o controle da informação é absolutamente fluido.

 

“Cada vez mais o público está recorrendo a plataformas para acessar conteúdo e informação. Muitas dessas plataformas, no entanto, estão se afastando de notícias e veículos de mídia, e focando outros tipos de conteúdo”, diz Rasmus Nielsen, diretor do Instituto Reuters.

 

Além da crise financeira, também no Brasil, os veículos de notícia não são páreo para os influenciadores no TikTok, que arregimentam multidões de seguidores na rede de compartilhamento de vídeos. Muitas vezes, de um dia para o outro pessoas partem do anonimato e se tornam celebridades e se intitulam coaches não se sabe exatamente do que, já que o céu é o limite quando se pensa em ganhar dinheiro.

 

Há significativos receios, no entanto, em relação à qualidade das informações. TikTok e X são consideradas as fontes menos confiáveis de notícias pelos brasileiros —24% dos usuários afirmam ser difícil saber quais os conteúdos nessas redes têm credibilidade.

 

Várias leituras importantes são oferecidas pela pesquisa e respectivas conclusões, que devem ser observadas com extremo cuidado e atenção pelos integrantes dos Três Poderes, assim como pelos postulantes a cargos nestas eleições que ocorrerão dentro de três meses e meio. Os futuros prefeitos e futuros vereadores precisam apontar caminhos para virarmos este jogo. Estão com a palavra.

 

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.

 

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